HISTÓRIA
Tradicionalmente, este tipo de luta lusitana (que até aqui denominamos de Gaurun) teria tido a sua origem nos jogos de combates sem armas e com armas praticados pelos antigos guerreiros lusitanos que se uniam em pequenos exércitos e confrarias armadas para combater entre si e contra povos invasores. Segundo alguns relatos históricos antigos, que dizem que os Lusitanos praticavam exercícios a cavalo, e jogos de combate corpo a corpo, entre eles Estrabão, quando se referia também a competições com exercícios de ginástica, de hoplitas e hípicas, com pugilato, corrida, escaramuça e combate em formação. O que é bem revelador da preparação permanente e da prontidão para a guerra que os Lusitanos tinham, daí terem sido exímios nas artes marciais, com jogos de luta pessoal, assim como na arte de combater a cavalo e de treino de estratégia militar. Ainda no passado século XX (cerca de 1940) algumas aldeias da Beira interior, tinham uma dança marcial com pauzinhos (muito semelhante aos Pauliteiros de Miranda) onde os dançantes se exercitavam a bater os seus paus ao som do pífaro (esta dança teria sido uma luta marcial de espadas na sua origem, mas que foi mais tarde domesticada pela Igreja católica romana). Para além desta fase histórica, ele era também parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes da adolescência para a vida adulta, contudo mais tarde ele teria tido também um papel fundamental como elemento identificativo lúdico-cultural no cimentar de relações entre os habitantes de uma mesma comunidade ou aldeia. Na sua última fase (portanto já dentro de um período de evidente declíneo) e até ao final do século XIX por exemplo, a Gauruni já teria tido um outro papel social, como o combate entre aldeias para resolver contentas e desentendimentos, principalmente entre agricultores e pastores. No início do século XX, nos dias santos ou festivos das aldeias e comunidades da Lusitânia, os combates de Gauruni ainda teriam tido grande afluência de participantes, pese embora o seu declíneo já evidente. Tradicionalmente eram frequentes os ajuntamentos de vizinhos tanto para realizar trabalhos de agricultura ou pastorícia comunitárias, como para dias festivos como forma de socialização e de fortalecer os laços dentro duma mesma comunidade ou aldeia. Eram nesses dias (especialmente ao pôr-do-sol) que se realizavam e surgiam as lutas, os rapazes lutavam entre si, e (ao contrário da galhofa transmontana por exemplo) nos primeiros tempos em algumas povoações lusitanas as moças também lutavam entre si. Tudo se desenvolvia com um carácter marcadamente lúdico e de respeito pelas tradições. Por desgraça, possivelmente devido ao facto de esta luta tradicional não ser uma actividade regulamentada, nem apoiada pelas autoridades oficiais e estatais portuguesas que têm contribuído para a perda de muitas das tradições do nosso povo nativo lusitano, ou devido à emigração para o estrangeiro, ou até mesmo às próprias mudanças evolutivas da sociedade cada vez mais urbanizada e materialista, a nossa luta tradicional foi esmorecendo, perdeu muito do seu fulgor anterior, foi ficando esquecida e chegou a desaparecer em todos os cantos e terras da Lusitânia. No século XX, o último lugar na Lusitânia onde se praticou até ao final dos anos sessenta a antiga Maluta foi no Soito (antigo concelho e hoje uma pequena vila integrada no concelho do Sabugal), contudo, em muitas outras aldeias do distrito da Guarda (Beira interior) esta luta tradicional e rudimentar era conhecida por Queda. Para muitos, o maior objectivo do lutador era mostrar valentia pessoal, contudo esta arte (ou desporto) tradicional queria dizer muito mais. Esta luta tradicional é o último vestígio dos antigos jogos de combate lusitanos de luta pessoal em que o vencedor era considerado o mais valente, ou mesmo (como nos primórdios) esta antiga arte de combate teria dado ao vencedor a liderança de muitos exércitos ou a chefia de antigos reinos e principados lusitanos. Mais tarde, já sob a ocupação romana e goda, e posteriormente após a ocupação portuguesa da Lusitânia no século XII, épocas houve em que era o prestígio duma comunidade ou aldeia inteira que estava em jogo. Qual delas ficaria dona dos caminhos, dos cursos de água, dos bosques, das pastagens e dos rebanhos? Nas antigas comunidades rurais e serranas, era assim que se resolviam os problemas entre elas, a justiça do poder central sempre estiveram demasiado longe... Na realidade é muito provavel que esta luta tenha tido diversos nomes locais, ou mesmo que tenham existido diferentes estilos que há muito teriam desaparecido. Contudo, denominamos esta nossa luta tradicional referente aos primeiros tempos de Gaurun. O termo Gauruni para designar a luta tradicional lusitana provavelmente não existiu como tal (o facto de não haver registos escritos não quer dizer que uma coisa não tenha existido) nesta forma de lutar que tinham os nossos primeiros antepassados lusitanos, este termo é moderno (é uma palavra comum na reconstruída língua lusitânica), contudo e a partir de agora é assim que a nossa luta tradicional lusitana passará a designar-se de hoje para a frente. O termo Maluta foi a designação moderna dada em língua portuguesa para a nossa luta tradicional lusitana desde a ocupação da Lusitânia por Portugal no século XII, e hoje esse termo (não oficial e não utilizado dentro da comunidade nativa lusitana, continuará a ser aceite e tolerado por nós) continuará a designar a Gauruni na versão oficial portuguesa da nossa página, apenas. Nós consideramos que seria uma trágica tristeza esquecermos ou perdermos para sempre esta luta autóctona, que é parte do nosso acervo cultural lusitano. É por isso que meia dúzia de nacionalistas lusitanos entusiastas dos desportos marciais e de combate, estão lutando pelo renascimento desta luta tradicional lusitana, semelhante a outras lutas tradicionais europeias com raízes semelhantes, sob o nome de Gauruni, termo este que aglutinará as variantes (antiga e moderna, a partir de agora) da luta tradicional lusitana. Mas a ideia de revitalizar esta antiga luta tradicional é também poder proporcionar à actual juventude lusitana (hoje tão desencaminhada, desenraizada, deslusitanizada e aportuguesada) a prática de uma actividade lúdico-desportiva, ao mesmo tempo folclórica e cultural, de forma a incutir-lhes um forte sentimento de identidade étnica lusitana e não portuguesa, que para além de cumprir com a sua função social inerente a qualquer desporto, possa também ser motivo de orgulho pessoal, por estarmos a homenagear os nossos antepassados lusitanos com o que de mais autêntico existe na nossa maneira de ser, honestidade, simplicidade e rusticidade tão essenciais à vida e à sobrevivência não só de qualquer pessoa como à da nossa comunidade nativa lusitana.